Martinho vive
Publicado em www.galizalivre.com
2017
Por Antom Garcia Matos /
Há justo sete anos que nos deixava umha pessoa irrepetível: José Manuel Samartim Bouça, ‘Martinho’, figura capital do nosso independentismo contemporáneo. Recuperamos com este motivo o texto da autoria do seu grande amigo e irmao, lido na homenagem que se lhe tributou no cemitério de Fene em 14 de Novembro de 2011, e que já fora publicado neste portal polo seu valor informativo.
‘Com estas poucas palavras quero achegar um graozinho de areia ao labor coletivo de forjar a memória do nosso irmao. Umha memória que temos obrigaçom de transmitir ao nosso povo, aos nossos filhos, e estes aos seus filhos. Porque o único futuro possível é aquel que sustém todo o nosso passado de esforço e sacrifício, aquele no que brilham com luz própria os homens e as mulheres que melhor encarnárom o coraçom e a força do nosso povo.
Devo reconhecer que neste momento tenho muitas dificuldades para encontrar as palavras precisas. Quando tantos criminais de guerra e tantos ególatras acabam os seus dias miseráveis envoltos na bandeira de conveniência dos “bons e generosos”, da “humildade” e do “carinho do povo”…, entom um nom pode ter mais que sérios reparos em arroupar ao nosso irmao com as mesmas palavras que sovam e prostituem os politiqueiros e os publicistas. Cansados, até certo ponto, de palavras que servem para quase todo e valem para quase todos, quiçá nom vinha mal um pouco de contençom, hoje que já sabemos que as cousas que importam, as de verdade (com maiúsculas) precisam sempre de poucas palavras. Martinho ha se sentir mais à vontade.
Em Martinho algumhas palavras (humildade, generosidade, discreçom, solidariedade) som radicalmente autênticas. É radicalmente certo que o nosso irmao nom padecia do maior vício dos nossos tempos: a egolatria e o exibicionismo. Seria dos poucos capazes de receber mil homenagens em vida sem que o seu ego abalasse o mais mínimo. Preferia fazer a dizer, custava-lhe escrever e lia o justo, nunca pretendeu ser um inteletual nem tinha umha sabedoria enciclopédica. Nom necessitava ribaltas para sobreviver, nom colecionava nada e nom competia com ninguém (nem consigo mesmo). Foi um operário dos de verdade, e porque o foi de verdade, tinha umha Pátria e umha terra que amar e defender. Porque o foi de verdade, nunca idealizou a classe à que pertencia, nem necessitou de compensaçons literárias, filosóficas, políticas ou cientistas para encher-se de valor e coragem e abraçar a causa dos deserdados, que era a sua. Nunca precisou das redes cibernéticas para sentir-se vivo e próximo do seu povo,e com três ideias claras carcomidas polo tempo era capaz de lutar pola Independência e o Socialismo. Por todas estas poderosas razons era um herói. Por isso a sua perda é umha perda irreparável. Porque sem esta classe de heróis nom podemos avançar ante os desafios que temos pola frente.
Somos quase todos e todas filhos de umha política impotente, fundamentada na produçom de palavras e discursos, na produçom de apariências e de espaços competitivos. Valores como “humildade”, “generosidade” e “discreçom” acabam sempre confinados ao andar inferior da idiossincrasia pessoal”, ou no pior dos casos ao desvám onde vai para todo aquilo que nom sabemos onde colocar. Acabam irremediavelmente neutralizados e desativados para a organizaçom do Povo, para a rebeliom. Por isso Martinho estava, também, tam por acima de quase todos nós em termos políticos e ideológicos. Tinha aqueles valores inatos sem os quais hoje sabemos que nom é possível fazer política, organizar o povo e enfrentar-se a Espanha.
A trajetória política e social de Martinho é transparente, sem dobraduras nem áreas obscuras. Foi simples e previsível, portanto era dos imprescindíveis. Afortundamente as hordas de exegetas com os seus ataques preventivos vam ter umha missom impossível com o nosso irmao. Viveu os melhores anos da sua vida entregado à luta armada nas filas do Exército Guerrilheiro do Povo Galego Ceive, na rua, na montanha e nas cadeias espanholas. Foi um “terrorista” e um “radical”. Palavras com que os nossos inimigos baptizam a todos aqueles que nom aceitam a legalidade de quem nos submete, e que nos certificam que estamos no bom caminho. Foi o caminho do nosso irmao durante a maior parte da sua vida. Deve ser pacientemente reconstruído e divulgado, sem vitimismos e eufemismos.
Foi um guerrilheiro, e ademais um guerrilheiro competente, que pertenceu ao Estado Maior da sua organizaçom. Abandonou o seu trabalho em BAZAN para incorporar-se ao exército independentista, entregando a liquidaçom laboral à causa. Com a primeira base operativa do Exército Guerrilheiro, entrou armado a um banco com o objetivo de expropriá-lo. Detido pola Guarda Civil, foi torturado e encarcerado durante mais de um ano. Em liberdade volveu à luta armada, pujo bombas em infraestruturas energéticas do nosso país, botando abaixo com grande precissom torretas elétricas de alta tensom. À frente da base operativa que comandava voou com explosivos a conduçom de água e a torreta elétrica que alimentava a fábrica de ENCE, paralisando o complexo colonial por vez primeira, numha das melhores açons realizadas polo EG. Foi o máximo responsável da base guerrilheira de montanha “Augas Limpas”, liderando este acampamento de forma responsável e eficaz.
Detido polos Grupos de Operaçons Especiais em maio de 1988, levado a umhas ruínas polos serviços secretos espanhóis, de joelhos, com umha corda ao pescoço, enfrentou-se aos captores com umha coragem e determinaçom que mui poucos acreditariam. Nos interrogatórios da polícia mantivo-se firme. E quando osperros ameaçaram com morder atirou-se com todas as suas forças contra a vidraça da sala de interrogatórios, rompendo-se a cabeça. Quando entrou na cadeia de Ourense tivo forças para pôr-se em greve de fame em protesto polo seu iminente translado a um cárcere espanhol. No seu périplo de até 8 anos por cadeias espanholas continuou sendo um militante sério e combativo, dando vida ao coletivo de presos e presas indepedentistas galegas. Foi levado a celas de isolamento por nom humilhar-se ante os carcereiros, comeu notas de papel para que nom caíssem em maos dos algozes, negou-se a trabalhar para a instituiçom penitenciária… Em campanhas do coletivo participou em greves de fame e encerrou-se voluntariamente na cela durante mais de médio ano em protesto polas condiçons carcerárias.
Quando saiu da cadeia de Herrera de la Mancha em 1996, trouxo com ele a alma guerrilheira. Em menos de dous anos já participava em ataques com cócteis molotov ao lado de umha nova geraçom de combatentes. Como bom guerrilheiro galego nom tinha esquecido as boas práticas. Mais de umha vez, detido e preso nos calabouços da esquadra policial, agora acompanhando a militantes da Assembleia da Mocidade Independentista. Naturalmente que nom viveu sempre no fio da navalha. Nengum autêntico revolucionário vive sempre no fio da navalha, nem o pretende. Porque nom há nengumha guerra, nem a mais dramática que nos podamos imaginar, que nom seja capaz de habilitar espaços e recriar tempos para essas cousas da vida que necessitam pouco esforço, que nom nos ponhem a prova. Como extraordinário montanheiro que foi sempre, percorreu as principais montanhas da nossa Terra e gozou com a “nossa” natureza. Procurou o amor, combateu a soidade, sentiu-se fadigado e afogou a miséria de semanas e anos de trabalhos forçados em oásis artificiais de fins de semana… E isto engrandeceu-no ainda mais.
Mas nunca deixou de crer na necessidade do projeto político-militar para a nossa luta de libertaçom nacional, porque nunca acreditou que os espanhóis nos haviam deixar em paz polas boas. Militou incansavelmente para que a luta armada fosse umha realidade na nossa Naçom, para que os nossos opressores nom durmissem tranquilos e nom nos puidessem chamar nunca como se chamam entre eles: “democratas”. Porque esta seria a rúbrica da nossa derrota moral. E o tempo deu-lhe a razom, era possível pelejar e resistir às tentaçons suicidas e às inclinaçons de vasalagem. A luta armada da resistência galega está aí para demonstrá-lo. Tem a Martinho como um dos seus melhores guias. Choramo-lo profundamente e colhemos o seu fuzil e o seu exemplo: Martinho Vive!
VIVA GALIZA CEIVE
ANTES MORTOS QUE ESCRAVOS’
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Dez anos sem Martinho
Publicado em www.galizalivre.com
2020
Faleceu num 10 de novembro de 2010 depois de que um cancro fulminante segara a sua vida, ainda prometedora e cheia de projectos. Chamava-se José Manuel Samartim Bouça, mas o povo conhecia-o como ‘Martinho’. Ainda apesar da sua extraordinária discreçom (ou precisamente por isso) foi umha das figuras capitais do independentismo moderno. A sua morte prematura golpeou duramente o nosso movimento, precisamente nuns anos em que a intensificaçom repressiva era a norma, o mesmo que o fora na mocidade militante do nosso homem.
Nasceu no concelho de Fene numha família obreira. Operário industrial nos asteleiros, fundiu desde a primeira mocidade a consciência de classe com a consciência nacional, como naquela altura (finais dos anos 70 e inícios dos 80) faziam milhares e jovens da Galiza mais industrializada. Iniciou-se nas fileiras da Uniom da Mocidade Galega e aderiu ao sindicalismo nacionalista em tempos da reconversom. Oposto à integraçom do nacionalismo popular no quadro constitucional, apostou na luita armada nas fileiras do Exército Guerrilheiro do Povo Galego Ceive. Caiu num atraco frustrado e viu-se condenado à cadeia mais cedo do desejado, mas ao sair da prisom reincorporou-se ao combate. Todo o seu património económico, milhons de pesetas da época, foi destinado à organizaçom armada. Volveu a cair em 1988 trás meses na mais estrita clandestinidade nas serras ourensanas, e enfrentou paliças e torturas com grande dignidade nos dias da ‘lei antiterrorista.’ Um dos seus irmaos e amigos, Antom Garcia Matos, hoje preso em Teixeiro, tracejou um completo quadro biográfico de Martinho num artigo que foi publicado há anos neste mesmo portal. https://www.galizalivre.com/2017/11/10/martinho-vive/
Trás oito anos consecutivos de cadeia, dispersado e submetido a todo tipo de limitaçons, Martinho procura custosamente trabalho e reincorpora-se aos asteleiros em vários pontos da Galiza. Incorpora-se ao excursionismo independentista nas fileiras da Coordenadora Galega de Roteiros, dinamiza as Juntas Galegas pola Amnistia e oferece ajuda e conselho às novas geraçons envolvidas na Assembleia da Mocidade Independentista. Participa também da primeira fase de NÓS-Unidade Popular, que abandona decepcionado em 2005. Activista da Fundaçom Artábria, em todas as iniciativas em que se envolve deixa a pegada dumha enorme capacidade de trabalho. Assume as tarefas menos vistosas e mais duras, fala sempre o justo, e trata com igual respeito o militante mais veterano e consagrado que a jovem activista recém aterrada nas nossas estruturas.
Em Martinho funde-se a evocaçom do melhor do nosso país e dos valores da camaradagem, o trabalho entregado, a escuita, a amizade ou o valor da natureza. No juízo celebrado há umhas semanas na Audiência Nacional contra Causa Galiza e Ceivar, o seu nome volveu a aparecer nos informes da inteligência espanhola. Ao que parece, o Estado considera o seu recordo e vindicaçom ‘apologia do terrorismo’. Perseguem a sua lembrança, pois sabem que um povo que nom recorda com gratitude pessoas como Martinho está abocado à própria morte.
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Roteiro-Homenagem ao companheiro Martinho
https://aguaslimpas.blogspot.com/2011/05/roteiro-homenagem-ao-companheiro.html
23 de maio de 2011
O vindeiro fim de semana, nos dias 28 e 29 de Maio, a Agrupaçom de Montanha Aguas Limpas homenageará ao recententemente falecido Martinho, cum roteiro pola serra do Invernadoiro. Visitaremos o Acampamento Aguas Limpas, no que Martinho estivo na década dos 80 durante a sua militância no Exército Guerrilheiro do Povo Galego Ceive.
Escolhemos o mês de Maio para fazer este roteiro fazendo-o coincidir com o XXIII aniversário da sua detençom e as das suas companheiras em 1988.
Dados da rota do sábado:
Saída
O ponto de encontro para chegar ao Invernadeiro será frente ao Hospital Comarcal de Verim, às 9:30 do sábado, para poder começar a andaina por volta das 10:30 (há que ter em conta que às 19:00 teremos que estar fora do Parque Natural)
Distancia
20km em rota de ida e volta polo mesmo caminho.
Tempo
8 horas
Dificuldade
Meia-alta, especialmente pola maleza dos últimos 3 km da ida
Durmida
Durmiremos em tendas de campismo sobre terra dura, mas o material quedará nos carros, nom há que carregar com ele.
Recomendaçons
Quanto a roupa será importante levar calças longas, mesmo que vaia calor, para atravessar a maleza.
Para comer: à andaina é de ida e volta, assim que só levaremos o imprescindível para resistir até a noite. Imos ter um máximo de 45min. polo que nom convém cargar com cousas que nom imos comer. Polo que um sande ou um pequeno recipiente com comida para a parada do jantar, mais algo para ir comendo polo caminho como froita seca pode avondar. Mas nom esquecer trazer mais cousas para o resto da fim-de-semana!!!
Rota
A rota, de ida e volta, começa nas Casas da Ribeira Pequena, a uns 900 metros de altitude. Durante 7 quilómetros caminharemos cómodamente por umha pista em bom estado que ascende, vagarosa e assombrada por pinheiros silvestres, até uns 1150 metros. Umha vez que cubramos este percorrido estaremos situados no limite Sul do parque. Desde aqui atravessaremos o Lombo dos Lourencinhos já por um caminho velho fora da area protegida, para depois, em apenas um quilómetro, descer de vez pola costa da Airoa todo o ascendido anteriormente. Toda vez que estejamos ao pé do encoro, a uns 890m, restarám escassamente 2 quilómetros para chegar ao Cabras, regato ao pé do qual está o acampamento que andamos a procurar. Este último trecho fai-se lento e fadigoso pola maleza que povoa o caminho. Afianal, logo de 3 horas e meia, chegamos a Aguas Limpas.
Resenha histórica
Aguas Limpas foi umha base do Exército Guerrilheiro do Povo Galego Ceive construida a finais da década de 80. Na altura o cerco policial sobre o EGPGC estreitou-se até o ponto de obrigar a militantes, que até daquela se agachavam em moradas de gente conhecida, a fugir cara lugares mais seguros. Foi no verao de 1987 quando José Antonio Matalobos Rebolo e Antom Árias Curto, depois de terem esquadrinhado boa parte da montanha do País constroim o refúgio de Augas Limpas no corgo do Cabras, regueiro que verte no encoro de Portas, situado ao Leste dos montes do Invernadoiro.
A escolha do lugar atendeu ao carácter oculto deste, mas sobre todo o facto de estar muito perto de Portugal. Quanto ao nome, é evidente que se deve à cristalinidade das augas do Cabras, que baixam desde a serra para estagnar-se numha pequena poça antes de morrer no encoro.
Umha vez construído, os moradores foram Antom Garcia Matos, José Manuel Sam Martim Bouça, Manuel Chao Do Barro e Jaime Castro Leal, instalados alí no inverno do 1988.
A sua estadia prolongou-se até o 28 de Maio desse ano, quando o Sam Martim e o Toninho iam a umha reuniom com os militantes que estavam no refúgio de Porto-Mouro, no canhom do Sil. Essa noite caeram presos no encoro de Guístolas os primeiros, junto com Susana que os estava a agardar alô; e na ponte que atravessa cara Castro Caldelas caeram o Matalobos, o Curto e o Campuzano.
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Convocatória da homenagem realizada em Artábria polo primeiro cabodano
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Bruno Lopes Teixeiro artigo no Nós Diário X aniversário do passamento
No próximo dia 10 de novembro, fai-se o décimo aniversário do falecimento do patriota galego José Sanmartim Bouça “Martinho”. Exemplo de militante revolucionário, entregou mais de três décadas à luita pola libertaçom da Galiza. A sua entrega custou-lhe torturas, dispersom e prisom.
Ao Martinho conhecim-no em 2001, após o Processo Espiral, numha assembleia comarcal de NÓS-UP no primeiro andar do Centro Social que a Artábria tinha na rua Madalena. Durante anos, partilhamos espaços e iniciativas de atuaçom sociopolíticas, com muitas coincidências e também legitimas diferenças.
Presente nas tarefas mais ingratas, naquelas que nom levam reconhecimentos, dos bons e generosos disposto a entregar sem duvidar o seu tempo e o seu dinheiro. Sempre com um sorriso.
Lembro as colagens, as greves, lembro irmos a a procurar publicidades às Pontes pola estrada velha ou voltarmos de madrugada de qualquer festival na Courier branca escuitando os cassettes de Xenreira ou Nen@s da Revolta. Lembro as noites que fechamos locais na rua do Sol com o seu inseparável irmao Joám.
Mas, com tristeza, também lembro a fogo aquelas oito palavras que saírom da minha boca em aquela assembleia. Oxalá me tivesse desculpado, nom o fazer é umha das cousas de que mais me arrependo da minha vida militante.
Destas linhas, o meu mais sinceiro reconhecimento a um proletário exemplar, um dos que terám que sair nos livros de História da Galiza libertada, um dos que, em palavras de Brecht, é dos imprescidíveis. Nom te esquecemos, companheiro!
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Homenagem a Martinho
“L’acte va començar amb dos homenatges a Alexandre Bóveda a càrrec del seu fill i vicepresident de l’entitat que porta el seu nom, Xosé Luis Bóveda, i de José Manuel San-Martin Bouça Martinho, a càrrec de Joám Lopes, històric militant independentista i sindicalista de la CIG.”