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Publicações

Publicações e artigos de Martinho ou sobre a sua figura

  Contra-capa Atreu Num. 2. Ano 1992

Atreu Num. 2o

Artigo de Martinho publicado no Atreu Nº20 (Vozeiro das JUGA)

A pesar de estar dispersad@s em distintas cadeias a centos de quilómetros da nossa Terra, nom conseguirom doblegar-nos nem desactivar-nos politicamente. As nossas ideias e resistência seguem estando firmes, ainda sabendo que os golpes do inimigo e a multitude de atrancos no caminho deixaram-nos bastante paralisados. Sim, é duro o caminho, mas a luita armada segue sendo necessária. Vamos entrar no século XXI e ainda estamos muito longe de conseguir os nossos objetivos. Nem sequer as organizaçons nacionalistas maioritárias, com a sua política institucional conseguiram frear um milímetro a opressom que sofre o nosso idioma, a nossa cultura…, a destruçom do nosso tecido industrial, sector labrego e gandeiro, sector pesqueiro… etc,etc. E por acima Espanha encontrou em Fraga ao lider perfeito para perpetuar o seu sistema colonial. Por todo isto, estou plenamente convencido que , a pesar da dificultade que entranha, Galiza necessita mais que nunca dum pojeto político-militar para frear a sua destruçom e recuperar a sua identidade que lhe permita forjar a independência necessária para desenvolver-nos como um povo livre. Ainda fica muita luita, por isso desde aqui animo-vos a toda a mocidade independentista a que vos organicedes, perdades o medo e pelejedes utilizando todos os meios ao vosso alcance. Rompede com tanta claudicaçom, com o discurso e política cómoda. Demonstrade com a vossa vitalidade e acçom revolucionária firme que se podem conseguir vitórias que lhe devolvam ao povo o orgulho de ser. Com vós na luita até a vitória. Desde Herrera, um berro de Independência e Socialismo.”

  Atreu Num. 2o

 

Atreu Nº21.

Vários meses sem receber publicaçons na cadeia.

Mais umha vez o estado totalitário decide dar um –repasso- à situaçom das pessoas que se atrevem a ser dissidentes e , muito além da imaginária democracia que di professar, dispom-se a dar um novo pau na via de soster o que nom terma em por si, qual é a sua própria estrutura de estado. No caso que nos ocupa, derom em ver o grande problema numhas celaraçons feitas polo independentista galego José Sanmartim Bouça no ATREU Nº20. Lá , desde a sua cela do cárcere espanhol de Herrera de la Mancha, Martinho dizia, entre outras cousas as seguintes:

Animo-vos a tuda a mocidade independentista a que vos organizedes, perdades o medo e pelejedes com tudos os meios ao vosso alcance. Rompede com tanta claudicaçom, com o discurso e política comoda. Demostrade que com a vossa vitalidade e acçom revolucionária firme podem-se conseguer vitórias. Com vos na luita até a vitória. Desde Herrea, um berro de independência e socialismo.”

Pois bom, a partir de aquela, os miolos dos seus carcereiros matinarom em como volver ao rego a alguem capaz, de ao seu ver de cegos, tal “desvario”. Ométodo democrático e pedagógico por de mais, como corresponde ao falso paternalismo das instituiçons penitenciárias, nom defradou a ninguem no que a sua vertente ditatorial se refire, e foi do mais simples: o ATREU, a agenda de MNG, a revista A Canha da AMI, a Gralha de Meendinho, e outras de caracter diversom, que nom passam para dentro ou o fam tras longos meses de retençom. O mesmo com algumhas cartas e , por suposto, tudo com os envelopes abertos, copiado e, se vai em galego, com o retrasso correspondente para a sua traduçom, que som outros meses, ou com o risco de que nom chegue nunca.

Vaia desde aqui a denúncia de cara ao público de como as gasta o estado com aquelas pessoas que no livre desenvolvimento das suas capacidades humanas nom comungam com os desígnios dos quatro esclarecidos que usurpam o poder ao povo. Martinho é umha dessas pessoas dissidentes e está a ser represaliado por exercer umha das mais humanas das capacidades que temos, qual é a expressom da própria opiniom; mas a liberdade de expressom nom parece compatível com o estado espanhol.

Namentres as cousas sejam assim, aqui estarám as JUGA para dizê-lo por aquelas e aqueles que dentro das cadeias suportam o abuso e a injustiça.

Sanmartim, é muito provável que este “ATREU” também nom cho deixem passar mas, ainda assim, haverá maneira de que a informaçom atravesse esses muros e a tua luita se faga ver e ti vejas a de fora. Nom conseguiram nunca o seu propósito.

Atreu Num. 22. Ano 1996

Atreu Num. 25. Charla organizada por “Estudantes Independentistas”, EI, sobre o EGPGC com a participaçom de Martinho.

“Informe sobre a tortura”, editado polas JUGA.

(Testemunho de Martinho na detençom de 1988)

Decidim que devia rebotar-me contra eles… Rompim a correr e lancei-me de cabeça…”

O dia 28 de maio, às 3.30 horas aproximadamente fomos detidos dous irmaos no monte por umha brigada dos “geos”. Foi umha cilada onde se empregaram com contundência e rapidez, sem dar-nos tempo a reaccionar. Em poucos segundos estávamos boca abaixo no chao. A surpresa foi tal que durante uns minutos o cerebro ficou-me como em branco. Depois, o coco começou a dar-lhe voltas ao assunto: nom me podia explicar como podiamos ter sido detidos ali. Imediatamente comecei a preparar-me para o que sabia que se nos vinha acima.

Depois de tirar-nos as mochilase identificar-nos, levaram-nos a umha estrada. Todo isto praticamente sem fazer ruido, suponho que em previsom de que aparecessem por ali mais irmaos e , também, para nom alertar os vizinhos dumhas casas que havia perto.

Na estrada, já começaram a machacar-nos a golpes na cabeça e patadas nas pernas, com ameaças constantes, até que chegaram dous carros com vários polícias de paisano. Meteram-nos a cada um num carro e nom voltei a ver o outro irmao até que saimos para o julgado.

No carro continuaram as ameaças. Davam voltas por várias estradas, como se nom encontrassem o sítio a onde me queriam levar.Afinal chegamos ao que devia ser um repetidor de televisom, onde aguardavam mais policias. Antes de que saisse do carro, o mais exaltado deles achegou-se-me e começou a bater-me na cabeça mentres dizia: “Ninguém sabe onde estades, assim que começa a falar porque senom vamos fazer-te desaparecer”, “fala senom queres que che pegue um tiro” Nesse momento decidim que devia rebotar-me contra eles e disse-lhe que tinha poucos colhons ele para me pegar um tiro. Entom enfureceu-se de tal maneira que começou a golpear-me com toda a sua força. Se nom mo tiram de acima, já iria, possivelmente, directo ao hospital.

Depois meteram-me numha espécie de garagem sem porta. Puseram-me contra umha esquina e ataram-me umha soga de corda fina ao pescoço. Tinham-me a cabeça aplastada contra a parede e de quando em vez davam tirons coa soga: outros davam-me patadas nas canelas e continuavam a ameaçar-me. Eu fechava-me em banda, fazendo umha couraça da minha mente. Fazia força no pescoço e, com a raiva que me produzia a situaçom, já nem sentia os tirons e paus que me davam.

Veu outro inspector –que devia ser o que mandava- com muito bons modos, muito entendido em política. Falava-me de história e tal. Intentava dar-me confiança. Afinal, como o tio via que nom conseguia nada de mim, baixou-me as calças com toda a parsimónia e, de repente, deu-me um pau nos testículos que me fizo ver as estrelas. Marchou dizendo que me fosse preparando. Aquilo fizo-me pensar no pior, mas estava preparado para o que vinhesse, pois desde a minha primeira detençom fora algo que sempre tivera em mente.

Estava amanhecendo. Os pasmas iam e vinham, falavam entre eles. Numha destas puseram-me de joelhos e começaram a me bater outra vez na cabeça, a atirar-me do cabelo e a dar-me patadas. Eu dizia-lhe que me dessem quanto quiserem, que se iam ter que empregar a fundo para fazer-me cantar. Eles riam e diziam que mais duros que eu já os viram e cantavam. E eu que nom me assustavam, que já conhecia muito bem os seu métodos e que para fazer-me cantar iam ter que emprega-los todos. Com todo isto ia ganhando-lhes tempo e elevando a minha moral.

Mais tarde, chegou de novo o chefe e mandou-lhes que me metessem no carro. Já era pleno dia quando arrancaram comigo para a comissaria. Durante todo o caminho o que ia ao meu lado foi intentando convencer-me de que a nossa luita nom tinha sentido.

Nada mais chegar a comissaria, tiraram-me o relógio e outras pertenças e meteram-me num calabouço. Nom tardariam muito em vir a procurar-me para o primeiro interrogatório.

Numha sala grande, com umha mesa no centro, começaram a acossar-me com perguntas. Como nom tiravam nada, optaram por propor-me um trato: se eu lhes dizia em quantas acçons participara, deixariam-me tranquilo, que a eles só lhes interessava isso e se lho dizia levavam-me ao calabouço a descansar. Diziam-me isso num tom tam sério que quase parecia verdade. Eu disse-lhes, rindo-me, “assim que vós só queredes saber isso, nom é? E depois, virá outro que queira saber outra cousa nom? Já vos disse que me acolho ao direito de nom declarar”. Levaram-me a fazer as fotos. Quando voltamos aos interrogatórios já eram dous inspectores diferentes.

Seguiram com a acossa de perguntas. Quando se cansaram porque eu seguia sem respostar a nada, puseram-me de pé contra umha esquina durante várias horas; nom sei exactamente quanto tempo; perdim a noçom.

Chegou um momento em que quase nom me tinha de pé, com sono e cansanço.Quando apoiava a cabeça na parede, eles separavam-ma.

Estavam muito concentrados na leitura dum diário que nos colheram, com as nossas experiências no monte. De quando em vez, faziam-me perguntas sobre ele. Eu começava a desesperar-me, polo cansanço e porque sabia que iam deter a mais companheiros que passariam polo mesmo sítio onde nos detiveram a nós. Dava-lhe voltas ao coco: como poderia fazer para que fora se inteirassem de que estávamos detidos? Em realidade, já tinha a ideia , mas faltava-me o valor para pô-la em prática.

Um dos inspectores saiu da sala. Quando voltou, chamou polo outro desde a porta. Falou-lhe baixo e marchou de novo. O outro todo alporiçado,fechou a carpeta que tinha na mesa. Chamou-me para o centro da sala e, aos gritos, disse-me que ante a minha atitude iam mudar de métodos. Temi-me o pior: electrodos, a banheira. Num momento que nom estava a olhar para mim, rompim a correr e lancei-me de cabeça contra umha vidraça. Atravessei-na e fum cair à frente dumha sala onde estava o outro irmao que detiveram comigo. Tentei erguer-me mas nom pudem e perdim o conhecimento.

Quando recuperei a consciência – deveram passar só uns segundos- sentim berrar ao irmao, que forcejava com os policias. Eu estava deitado acima dos cachos de vidro, chorrando sangue abundantemente, mentres o inspector que me estivera interrogando segurava-me por um braço e a cabeça. Estive assim bastante tempo, até que me baixaram umha camilha e me levaram ao hospital em ambuláncia.

No hospital, os policias meteram-se na sala onde me estavam consendo. Num momento que nom ouviam disse-lhe ao médico que me deixasse ingressado, mas nom deveu ser possível, de certo que a policia nom o permitiu.

Na comissaria deixaram-me tranquilo o resto da noite. De manhá, levaram-me a que me vissem o forense e o juiz. Depois de observar-me , o juiz disse-lhe ao chefe da polícia para que me levassem ao julgado antes de que se cumprisse o praço.

Depois veu o advogado para a declaraçom. E depois, de cabeça a outro interrogatório. Eu estava tranquilo, porque pensei que tal como estava nom me poriam a mao acima, ma ainda me deram uns golpes nos ombros e no pescoço, ameaçando-me com que me iam ter ali até que eles quiserem.

Para ganhar tempo disse-lhes que tinha um depósito de material. Levaram-me ao lugar que lhes indiquei. Ali figem-me o mareado e que nom conseguia situar-me. Como viram que nom aparecia nada, puseram-se muito agressivos, mas nom se atreveram a tocar-me e levaram-me de novo a comissaria.

Estive umhas quantas horas tranquilo no calabouço, até que me levaram para outro interrogatório. Este foi muito breve, fizeram-me algumha perguntas sem tocar-me um cabelo. E logo, novamente ao advogado para fazer umha ampliaçom da declaraçom, referida ao assunto do depósito. Depois já estive no calabouço até que me levaram ao Julgado.

A experiência da anterior detençom, quinze meses que estivera em prisom, a clandestinidade, a etapa no monte, foram factores fundamentais para enfrentar esta segunda detençom. A primeira marcou-me muito. Na cadeia debatiamos muito sobre o tema, a tortura, a melhor forma de enfrentar o inimigo nessas circunstáncias. Na clandestinidade, vivendo exclussivamente para a causa, sabendo que estás completamente em perigo, buscado polo inimigo; também trataramos o tema com especial atençom e dedicaçom. A convivência com os irmaos, a própria vida no monte, ia curtindo-me, fortalecendo a minha moral e a minha consciência. Todos estes factores conjugaram-se para enfrentar esta segunda detençom com melhor preparaçom psicológica.

Também há que ter em conta a repercussom pública que tivo a nossa caida e o facto de que nos atirassemos polas janelas. Isto fiz que nom se aplicaram muito a fundo com nós.

Os torturadores estám afeitos a ter ao detido sempre dominado e fazer que nom se sinta ninguém. Para isso começam por intimidá-lo e assustá-lo até pô-lo como um flam. Se entom se lhes rebota, pode que eles se ponham mais feros, mas o detido está reforçando a sua moral. Os torturadores também podem descontrolar-se, com o risco que supom para eles ter que levar-te ao hospital ou suspender os interrogatórios. Também é um risco para o detido, claro, mas compensa, já que se os torturadores levam os interrogatórios à sua maneira, afinal tiram-te toda a informaçom que querem, fazem de ti o que lhes dá a gana e destruem-te física e psicologicamente.

     

Terra Livre Num.1, vozeiro da AMI. Nova sobre umha palestra organizada com a participaçom de Martinho.